17 de maio de 2011

Némesis - Capitulo VI

Orion estava á superfície da Terra haviam quatro dias. Estava fraco, zangado, a fúria que há tantos anos tinha acumulado pela rapariga estava a querer saltar cá para fora... A matança efectuada na aldeia não lhe saciava o seu apetite por matar. Ele sabia que não podia voltar a casa, sem antes ter acabado a sua missão. Percorreu a floresta em redor da aldeia, com esperança de a encontrar. Nada lhe apareceu á vista, ele voltava sempre para a aldeia de mãos vazias. Ao fim do terceiro dia, resolveu tornar a entrar na casa onde a rapariga estaria antes de desaparecer. Procurar pistas sobre o seu aspecto, cor do cabelo, o que vestia, seria o mais acertado a fazer, visto que, se queria encontra-la, ao menos tinha de saber o seu aspecto... Afinal, ela não era uma rapariga normal... Ele sabia disso, ele sabia do perigo que ele e os da sua espécie corriam... Era grave, a situação...
Olhou em redor. Depois de toda aquela destruição ali presente, seria difícil de encontrar alguma coisa... Orion devia ter-se controlado melhor, não devia ter reagido daquela maneira... Olhou, por acaso, para a parede onde tinha gravado as suas palavras, onde tinha cravado a sua adaga... Mas espera, a adaga já lá não estava... Já lá não estava? Como é que... Não... Poderia? Poderia ter a rapariga voltado a casa?
Todas estas perguntas passavam pela cabeça de Orion no momento em que fixava os seus olhos na parede de madeira. Afinal, se tivesse ficado quieto no mesmo sitio, em vez de sair por aí á procura de um corpo sem rosto, provavelmente já tinha acabado o seu trabalho ali, e provavelmente já estaria em casa, a gozar os milénios que ainda tinha pela frente, sem se preocupar com a destruição do submundo... No entanto, Orion não se enfureceu. Antes pelo contrário, só lhe deu mais animo para procurar a mais pequena pista sobre a rapariga. Ao olhar para o chão, descobriu uma almofada encostada a um canto. Porque não? Foi até lá, e apanhou a almofada. Observou-a atentamente. Um cabelo.
-Hum... Castanho... Já é melhor que nada... - Disse este para si mesmo.
Já sabia que a rapariga tinha cabelo castanho. No entanto, não podia andar para aí a matar todas as raparigas de cabelo castanho que encontrasse. Quer dizer, poder podia, mas não era a mesma coisa. Dava trabalho e Orion não estava muito para aí virado. Saiu da casa, e assumiu a forma de uma ave. Rapidamente, elevou-se nos céus e começou a sua busca. Para começar, foi uma ideia idiota, tendo em conta que á sua volta só havia floresta, e ele não tinha visibilidade nenhuma para ver mais além que as copas das árvores. Mas não tinha alternativa. Estava fraco, não conseguia transformar-se em algo que se movesse por terra. Voou até à aldeia mais próxima. Decidiu descer até a floresta e retomar a sua forma, com uns pequenos ajustes, de modo a parecer mais... Humano. Entrou na floresta. Olhou em seu redor. Todos estavam ocupados com os seus afazeres. Tarefas domésticas, um ferreiro que reparava espadas, um velho que trabalhava um arco, as mulheres que conversavam umas com as outras. Dirigiu-se ao velho. Se ela tivesse passado por ali, decerto que já tinha saído. Decidiu agir como se estivesse apenas curioso na vida quotidiana.
-Boa tarde - Cumprimentou.
-Boa tarde. Deseja alguma coisa? - Perguntou o velho homem não desconfiando de nada.
-Estou só de visita, mas gostaria de aprender um pouco mais sobre a aldeia. Vive cá á muito tempo?
-Está bem, no que o poder ajudar, eu ajudo. Sim, vivo nesta aldeia desde os meus tempos de menino.
-Como é viver aqui?
-É bom, é calmo, agradável... Por vezes as crianças fazem as suas travessuras, mas não é nada que nós, habitantes, nos importemos. Tiram monotonia aqui ao sítio.
-Parece gostar de viver aqui...
-Sim, é de facto muito bom... Vou praticando o meu ofício, como pode ver, trabalhar a madeira.
-Sim, já reparei... Costumam ter gente nova? - Orion queria chegar ao fundo da questão, e depressa. Não tinha paciência para conversas amigáveis com humanos.
-Para dizer a verdade não... É raro aparecer alguém novo aqui... Normalmente, as pessoas que aparecem cá são de aldeias vizinhas.
-Estou a ver... - Orion preparava-se para se ir embora, o velho não tinha mais nada para lhe dizer.
-Por acaso, há uns dias chegou uma pessoa nova.
Orion estancou no lugar onde estava. Virou-se para o velho, o seu interesse estava a aumentar. Talvez aquela conversa não fosse uma total perta de tempo.
-Interessante... Um caçador perdido, não?
-Não, não, nada disso. Uma rapariga, mas jovem. Devia ter uns... Dezanove, vinte anos... Por aí.
-A sério? E ainda cá está?
-Já não... Já se foi embora...
-E como é que ela é? - Orion sabia que estava a demonstrar demasiado interesse pela rapariga, mas tinha de saber o máximo possível sobre ela.
-Bem... Há pouco para dizer... Era altinha, cabelo castanho, a sua face deixava transparecer medo... A pobre rapariga estava amedrontada...
-E para onde é que ela foi? - O velho homem apontou para a direcção da floresta, por onde Némesis tinha saído da aldeia.
Orion sorriu.
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