Barquinho de Papel

Parte I

Eu gostava de ser um barco. Um barco pequenino de papel. Um barco de papel. Um barco que pudesse nascer no rio, aliás, na nascente desse mesmo rio. No entanto, não estou em posição de fazer exigência alguma. Por isso mesmo, vou continuar a história do meu barquinho de papel.

E largo-o, ao meu barquinho de papel, no inicio daquele rio, na nascente de água pura e inalterada por qualquer ser ou alguma coisa.
E começava a jornada do pequeno barquinho de papel. Avança, tímido, muito devagar, para não se afundar antes de chegar ao seu destino.
O rio está calmo, permanece no seu estado mais puro, mais inalterado. O barquinho de papel sente-se feliz. Continua a percorrer este rio. Com o tempo, o rio vai ficando aos poucos mais rápido, mas ainda assim, o pequeno barco de papel não se deixa intimidar. Continua o seu caminho, sem medo. Parece que o nosso barquinho é corajoso.
Mas um dia algo mudou. Uma tempestade. O rio transbordara. O pequeno barquinho não estava pronto para a tempestade. Ele tentou lutar contra a tempestade. Quase que desistiu de lutar contra ela. Mas a tempestade passou, o barquinho pequenino tentou continuar o seu caminho. Estava fraco, indefeso....
O tempo passou, e o pequeno barquinho conseguiu recuperar-se dessa tempestade.
O sol raiava no céu, o barquinho de papel estava de novo encorajado para continuar o seu caminho.
O sol brilhou no céu durante muito tempo. O barquinho de papel estava feliz. O seu caminho estava iluminado. Porém, o céu enegrecia a cada dia que passava.
Alguém vira o barquinho, e decidira apedrejá-lo. Não sei bem porquê! O barquinho, estava triste. Estava quase a desistir de continuar o seu caminho, até ao seu destino final. Ele ao inicio pensou que o caminho era fácil, que não ia haver obstáculos na sua frente. Alguém que vira o que aconteceu, ajudou o barquinho de papel a não desistir do seu caminho. Então, o barquinho continuou o seu caminho, o rio já não era calmo, já não era pacifico, estava sujo, poluído... O barco estava em muito mau estado, chorava muitas vezes a pensar no que lhe tinham feito, perguntando-se o que lhes tinha feito... Estava fraco, triste...
Esse alguém desapareceu da vida do barquinho. Este, sentiu-se a afundar no rio que agora estava negro. O céu estava da cor do rio. Negro. Começou a chover. Relâmpagos surgiram no céu. O barco de papel chorava pela ausência desse alguém. Agora não tinha alguém com quem desabafar. Porque tinha sido abandonado.
O tempo passou. O barquinho foi obrigado a crescer. Não teve a vida feliz com que tanto sonhara. Tinha sido atacado, estava ferido, desgastado. Nesse tempo que teve de crescer sem ter vontade, mas porque teve de ser, perdeu tudo aquilo que tinha.
Hoje, se perguntarem pelo barquinho de papel, ele está frágil, triste, perdido.
E o rio? Não foi solidário para com o barquinho de papel...
O barquinho de papel perdeu-se naquele rio negro... Ainda hoje está perdido, recordando os momentos passados, recordando aquele alguém que o ajudou, mas que depois o abandonou, derramando lágrimas de sofrimento...
Pobre barquinho de papel...
Será que ele vai conseguir alcançar o seu destino final?

Fim da Parte I

Parte II


Bem, da última vez que vi o barquinho, este encontrava-se sózinho, perdido naquele ramo do rio grande onde um dia estivera, naquele ramo onde reinava a poluição, as trevas, o desespero do próprio barquinho.
Ele só desejava sair dali, só desejava ganhar forças para sair dali. Bem, vendo bem as coisas, afinal este ainda não tinha ido ao fundo, sendo um barquinho de papel... Podia também ganhar umas rodas mágicas que o fizessem saltar daquelas águas negras e passar para o rio lindo e calmo que tanto queria encontrar, como foi sugerido. Bem, mas isso não acontece só porque sim... Assim que chegava a noite, o barquinho procurava um cantinho sossegado naquele rio para puder passar a noite, desde que ali entrara que nunca mais navegara de noite, pois tinha medo das trevas que se abatiam naquele lugar, já não era como dantes, em que tinha gosto de percorrer o rio e olhar o céu, ver as estrelas, tão lindas no céu... Mas ali não haviam estrelas, o céu estava sempre coberto...
Passou essa noite...
Acordou de manha. Curiosamente, o barquinho tinha sido arrastado pela corrente... Não, não podia ser corrente... Afinal, aquele ramo do rio não tinha uma saída, não desaguava em lugar algum. Vejamos... Afinal, não tinha sido levado pela corrente. Não, alguma coisa ou alguém o puxava para fora dali.
O barquinho derramou uma lágrima no rio que agora abandonava, sem saber como nem porquê. E, ao fazer isso, reparou num pequeno peixinho, provavelmente acabara de nascer, devido ao tamanho do mesmo. O barquinho, ficou tão surpreendido com o peixinho... Este conseguira nascer ali mesmo, no rio poluído. Afinal, ainda havia esperança suficiente para poder aparecer vida nova. O barquinho ficou muito feliz pelo pequeno ser que agora o seguia.
No entanto, o barquinho ainda não sabia porque estava a abandonar aquele local, não sabia o que o estava a fazer com que ele se movimentasse para fora dali. Este, no entanto, não se importava com isso. Porque sentia a felicidade a voltar-lhe de novo a si mesmo.
Chegou de novo a noite, mas desta vez, o barquinho não quis parar. No céu já se avistavam as primeiras estrelas. O céu ia ficando cada vez mais limpo. Mas, com o passar do tempo, acabou por adormecer.
Acordou na manha seguinte. O pequeno barquinho não acreditava no que via. Olhou em volta, ainda espantado com tudo aquilo. Via vida por todo o lado. O rio, parecia que tinha renascido. Não, espera, o barquinho reparou em si mesmo. Este estava... novo? Como que acabado de ser feito? Mas... como?
Mas isso agora não importava. O que importava era que tinha saído daquelas águas. No entanto, continuava sem saber quem o tinha levado até ali. Percorreu, feliz, aquele rio de águas límpidas, cheias de vida, quando viu algo que nunca tinha visto. Estava lá, no rio, rodeado por peixes, aves, borboletas, outro barco de papel.
No entanto, este não era um barco de papel. O nosso barquinho, ao observar mais atentamente, percebeu que se tratava de uma barquinha de papel.
Ao aproximar-se, ouviu algumas das palavras desta barquinha.
"- E assim puxei o barquinho de papel, e fi-lo chegar a este rio, cheio de peixinhos, esperança e alegria, tal como ele tinha sonhado desde que iniciou a sua aventura."
O barquinho de papel estava feliz. Tinha chegado ao local que iria iniciar a sua verdadeira viagem até ao grande Oceâno.

FIM