31 de maio de 2011

"A tristeza é um sentimento logo, não se pode adiar..."

27 de maio de 2011

Capitulo VII - Du'blade (História Conjunta)



Depois de nos alimentarmos, estava na hora de partir, e ainda queria explorar melhor aquela Ilha.
-Então, vamos em frente. – Disse eu.
-Certo, vamos a isso! – Respondeu Gaktak, levantando-se e desaparecendo com os elementais do vento.
- E agora, vamos por onde? – Já agora queria saber para onde ia… Gaktak ergueu o braço em direcção ao fumo que se avistava dali e respondeu:
-Bem… um pouco óbvio…Vamos em linha recta em direcção ao fumo! Ah! Tinha dito há pouco que arranjaria maneira de encurtar a nossa viagem…- Havia algo no sorriso de Gaktak que não me estava a deixar lá muito confiante… - Que acham da ideia de voar?
Porque é que será que já nada me surpreende… No entanto, queria explorar a Ilha sozinho.
-Eu já vos apanho. Lylith, vai com ele, eu logo vou ter convosco. Quero observar com mais atenção a floresta. Logo nos vemos.
- Está bem, então, até já. - Respondeu Lylith.
- Ugh… porque não…
… … …
Posto isto, afastei-me. No entanto, sabia exactamente a localização deles... ainda... No meio daquela floresta, nada era igual. Parecia que a cada árvore que observava era diferente, como se naquela floresta reinasse toda a flora. No entanto, não tinha algumas das plantas e árvores da minha antiga floresta. Continuei o meu caminho, a percorrer aquela floresta, na esperança de encontrar algo de interessante. Sempre ouvi dizer que neste mar havia Ilhas com segredos. Quem sabe, talvez pudesse encontrar algum segredo de que tanto se falava, mas que era a todos desconhecido.
Continuei a andar. Enquanto isso, observava a paisagem a meu redor. Para além do mais, não tinha mais nada para fazer. Apesar da diversidade da flora ali presente, não se via um único animal ali. Estranho...
… … …
- Bem, há alguns feitiços para voar… Deixa-me só decidir qual é que é o mais eficiente para esta situação… Já sei! Elementos que por mim circulam, Energia que se esconde de nós, meros mortais, Força que provém da fúria divina. Vento, tu que te escondes melhor, o mais invisível, só sentimos a tua força quando, em desprezo à nossa condição, nos empurras e desabas. Vento, empresta-me essa tua força, essa tua brutidão e fúria puras, impulsiona-me e carrega-me até ao meu destino. Move-te, Turbilhão!"
Dois turbilhões apareceram, um de baixo de Gaktak, e outro debaixo de Lylith, elevando-os mais alto que as copas das árvores. Lylith não reagiu muito bem.
-Que estás a fazer? PÕE-ME NO CHÃO; JÁ!!! - Gritou Lylith em pânico. Gaktak apenas sorria. Limitou-se a responder:
- Tem cuidado com o que desejas… - estalou os dedos e o turbilhão que estava por baixo de Lylith desapareceu tão depressa como aparecera.
- Não, pára! PÁRA! NÃO ME DEIXES CAIR!!! – Lylith estava a arder de raiva, mas ao mesmo tempo em pânico total.
- Ah… Então assim… - Gaktak a divertir-se com a cena, estala mais uma vez os dedos e o turbilhão aparece outra vez por baixo de Lylith, elevando esta ao nível de Gaktak.
… … …
Passado algum, tempo, comecei a ver uma espécie de clareira. O caminho ia ficando menos denso a cada passo que dava. Quando dei por mim, estava a admirar as runas e construções de uma entrada em pedra de uma espécie de templo subterrâneo, coberto de lianas e plantas trepadeiras. Não sabia bem o que havia de fazer, pois não sabia o que me esperava no seu interior. No entanto, resolvi entrar. Não ia ficar ali a admirar as runas para sempre. Pergunto-me o que significariam. Bem, não interessa. Passando a frente, por ali a dentro. Estava escuro no seu interior. Percorri, sempre encostado ás paredes daquela sala escura e fria, sempre com muita cautela para não me deparar com algum ser, ali no escuro. Uns passos á frente, comecei a ver luz, e senti-me mais aliviado poer saber que o caminho já era minimamente iluminado. Entrei nessa sala. Como tinha pensado, a luz provinha se certas perfurações no tecto, provocadas pela densa flora ali existente. Naquela sala, existiam estátuas de Deuses, ou pelo menos pareciam Deuses, tendo em conta a forma como estavam apresentados. Luxúria, riqueza, poder. Pareciam que estavam a olhar-me, a vigiar-me. De facto sentia-me vigiado por algo, mas talvez fosse apenas impressão, por estar debaixo da terra, sozinho e com pouca luz. De repente, as ametistas da minha espada, Light, começaram a brilhar intensamente. Não sabia porquê, de facto nunca tinha acontecido nada assim antes. Era a primeira vez. Desembainhei a espada, e pus-me em guarda, avançado ainda mais cautelosamente. Vi mais uma entrada. Bem, no meio de tanta entrada só espero conseguir encontrar a saída... Entrei.
… … …
- NUNCA MAIS FAÇAS ISSO SEM PERGUNTARES PRIMEIRO, PERCEBESTE?! – Lylith não estava nada contente. Não gostava nada que a tratassem como uma boneca de trapos… e isso acabou de acontecer… Literalmente.
-Isso o quê? O largar ou o levantar? Não, mas percebi-te: absorvi a mensagem. – Respondeu Gaktak, com um riso sarcástico. – Então, vamos?
- Acho bem que sim- Lylith tentava acalmar-se. - Sim, vamos, mas não muito depressa, sim? Se vou voar, ao menos quero aproveitar a vista…
Pela primeira vez, o sorriso de Gaktak apagara-se um pouco.
- Mas isso tira a piada toda… mas certo… ainda vos devo uma, por isso… Em frente!
… … …
Ao que parecia, aquela sala deveria de ser a mais importante daquele templo, ou a mais elaborada, ou o centro do templo, o que quiserem. O brilho da minha espada intensificou-se. Depressa percebi porquê. No centro da sala, encontrava-se uma arma antiga, a avaliar pelo aspecto, suspensa a poucos centímetros do chão. Aquela arma, segundo os estudos que tinha de armas, intitulava-se du'blade, uma arma com três pegas, uma ao centro e duas em cada lâmina, que se prolongavam a partir do centro, quer para um lado, quer para o outro. Também esta brilhava intensamente. Tentei pegar-lhe, estiquei a mão para a pega do meio. Agarrei-a.
… … …
Lylith e Gaktak já estavam no ar, a voar em direcção á aldeia. Tal como pedira Lylith, Gaktak teve a delicadeza em ir não tão depressa como desejaria. Após algum tempo, Gaktak cortou aquele silêncio.
-Sei que me quererão fazer todo o tipo de perguntas... Não é todos os dias que se vê um jovem de cabelos brancos... Embora não goste de me repetir, ainda vos devo uma... Uma que ainda vai demorar um bom bocado até ficarmos quites, por isso... Qualquer tipo de perguntas que te passem pela cabeça, podes despejá-las...
Lylith pensou no que queria perguntar. No entanto, eram tantas as perguntas que tinha para fazer, que era difícil de as organizar. Decidiu então começar por uma simples.
-Certo... Então, porque é que existem pessoas assim, como nós, pessoas... Hum... Mágicas, por assim dizer? Na minha tribo, nunca vi nada semelhante...
-Nós não somos especiais... Na verdade, qualquer um pode utilizar magia... Só é preciso é saber como utilizar todo esse potencial... A princípio é que pode ser perigoso... – Respondeu Gaktak.
-Entendo... isso quer dizer que o Rohan também poderá usar essa magia? E a magia é toda igual?
Lylith já se tinha perguntado a si mesma acerca disso… Rohan sempre foi muito protector em relação a ela… No entanto, agora parecia que os papéis se tinham invertido… Esta sentiu-se um pouco mal por se imaginar a defender Rohan de eventuais perigos. Gaktak continuou.
-Depende... a magia está dividida por categorias: Elementarismo, Druidismo, Misticismo, Mental (ou Feitiçaria), Iconomancia, Artes Sagradas (ou Traumatologia) e Artes Negras (ou Necromancia). E também há tipos incompatíveis, como, por exemplo, A Traumatologia e a Necromancia. Rohan também pode não conseguir usar: pode não ter Maná suficiente ou a mente dele pode não estar preparada... O corpo parece estar, até melhor que o meu, mas, se pelo menos uma destas condições não se verificar (Preparação mental, preparação física, e quantidade de maná), o cérebro dele explode dentro do crânio quando ele a tentar fazer... na verdade, mesmo que todas as condições se verifiquem, tal também pode acontecer numa das primeiras vezes em que ele entrar em Claridade...
-O que é entrar em Claridade? – Lylith queria aprender o máximo possível sobre aquele assunto.
-O estado de Claridade é um estado em que a tua alma abandona o teu corpo e passa para o chamado Plano Universal: o plano dos planos. Neste estado, podes retirar Maná directamente do plano da tua escolha... Desde que saibas utilizar magias desse plano e que não seja incompatível com nenhum dos teus outros planos. Dependendo do nível (digamos assim) de experiência de um mago, ele demora mais ou menos tempo a entrar em Claridade. Por exemplo, eu consigo faze-lo em pouco menos de um segundo... Quase instantaneamente. A partir do momento em que entras em Claridade, até ao momento em que a tua alma volta ao teu corpo, nem um segundo se passou neste mundo.
-Parece bastante complicado de perceber... E como se entra em Claridade?
-Meditando!
... … …
Não era muito pesada, no entanto, e como seria de esperar, era mais pesada que a minha espada. Tanto a du'blade como a espada, brilhavam agora mais intensamente. Não podia andar por ai com armas que brilhavam, não dava jeito nenhum... Porém, as armas cessaram o seu brilho. Fiquei a olhar para elas, e no momento seguinte, ambas se soltaram das minhas mãos, e elevaram-se no ar. Formaram-se duas esferas de energia azul a volta de cada uma, e essa energia passou de azul para branca, ocultando o seu interior. Depois, por baixo das esferas, apareceu um pentagrama inscrito numa circunferência. Posto isto, as esferas aproximaram-se uma da outra, fundindo-se. A luz libertada pela esfera de energia branca foi de tal modo forte que me cegou por momentos, momentos esses que pensei que fosse explodir, daí ter-me abrigado nas ruinas daquela sala. O processo continuava, a esfera de energia libertava faíscas por todo o lado, ameaçando explodir a qualquer momento. Até que tudo aquilo acabou, mas a esfera, pelo que eu vi, não se tinha separado nas duas originais anteriores a ela... Fumo estava espalhado por toda a parte. Esperei que este se dissipasse. Quando aconteceu, observei boquiaberto com o que tinha aos pés.
… … …
- E como é que isso se faz exactamente? – Lylith estava curiosa, mas deixava transparecer desconfiança relativamente á meditação. Gaktak suspirou.
- Ugh... Agora não consigo explicar bem... É algo que já faço instintivamente... Mas vou tentar... – Justificou-se. – Ah! Limpa a tua mente: tens de te concentrar na essência do teu ser... Não no físico, mas sim na tua alma... Tenta elevá-la, separá-la do seu recipiente físico... Acho que é assim... Pelo menos resulta comigo... Cada um deve de ter a sua maneira de meditar... Nunca pensei muito sobre isso... – Responde, envergonhado.
Lylith estava a seguir tudo, mas apesar de não ser de intrigas, havia uma coisa que a estava a intrigar…
- Bem… acho que estou a perceber... e o teu braço?
- Bem... Isso é porque sou um Necromante... na verdade, sou o filho de dois Necromantes, por isso não escolhi esse tipo de magia... No entanto, só estou aprofundado o suficiente nesta Arte para não me corromper a alma... se me entregar mais, a minha alma é corrompida. Não que tenha poucos conhecimentos, na verdade, até tenho bastantes e o meu nível de poder nessa área é bastante grande, mas, comparado com o daqueles que se deixaram corromper, como o meu meio-irmão, Victor, não é nada. Não vos disse ao inicio porque não é algo de que me orgulhe... Não fui eu que o escolhi. Por isso é que compenso com uma grande maestria nas Artes Elementais e na arte do combate... Como essas duas especialidades, tal com a decisão de tentar envergar pela Traumatologia, mesmo estando ciente da minha condição, levando ao estado presente do meu braço, foram escolhas minhas, orgulho-me delas. – Suspende o diálogo, suspira. Seguidamente, continua. – Na verdade, ser Necromante é um crime na maior parte do mundo conhecido, por isso, tenho de ter um documento que comprove que sou um Necromante Não Praticante, documento esse que foi destruído durante a tempestade, por isso o mais provável é, assim que chegarmos aquela aldeia, eu ir parar a algum calabouço durante uns dias, até chegar uma cópia da minha terra natal...
- E não podes provar de outra maneira?
- Não... Dantes marcava-se com um ferro quente, nas costas do Necromante Não Praticante, uma caveira com uma corrente à sua volta, mas já não se faz isso... Agora é tudo em papiro, papel, rocha ou pergaminho, dependendo da região.
- Então... No teu caso... Estava escrito em papel... Mas duvido que naquela aldeia eles façam isso... Como fica aqui, no meio de nada...
- Mando um Elemental como mensageiro...
- E não tens de pagar nada? Por teres perdido os documentos?
- Não... o reino onde vivia é suficientemente rico... Por isso o Rei não pede nada por causa disso... Noutros sítios pode ser diferente, mas ali não se paga nada por causa de, como o Tesoureiro Real diz ‘futilidades’.
- Ah bom... Menos mal... E vocês não têm de se apresentar decerto em certo tempo?
-Não... Se praticarmos Necromancia depois do documento ser assinado, aparece um "X" no original, que se encontra na terra natal do Necromante, e na cópia, que está com ele... Até 3 somos perdoados, mas depois... Somos levados a julgamento, podendo levar de 3 anos de cadeia a pena de morte, dependendo da ofensa.
- Na minha tribo não temos nada disso... É uma aldeia pequenina... Simples, mais nada...
- Pois... É a vida... Quanto maior o território, maiores as burocracias...
- Tens razão... O que será que Rohan esta a fazer?
… … …
Aquilo que tinha aos pés, era a minha espada, Light, fundida com a du'blade que estava naquela sala... Aquelas duas armas tinham-se tornado numa... Uma du'blade com seis ametistas, runas nas suas duas lâminas e as três pegas... Pesava um bocado mais que a minha espada, no entanto, parecia que tinha sido feita para mim, á minha medida. Era estranho, de facto era estranho, pois fusão de armas não acontecia todos os dias... No entanto já me tinha habituado a coisas estranhas neste mundo, de facto, não era novidade nenhuma. Analisei bem a du'blade, cada contorno seu, cada centímetro de lâmina, as pegas... Era fantástico. Conseguia sentir o poder dela, parecia que a conhecia desde sempre. Olhei bem para a pega do meio. Instintivamente, e sem saber como, separei a du'blade, como se a tivesse partido em duas.
-Ahhhh... Então também a posso usar como espadas... Já percebi...
Afinal não era apenas uma du'blade. Também se dividia em duas metades, passando de du'blade a duas espadas... Resolvi sair dali, não tinha nada mais a fazer naquele lugar... Era tempo de voltar para junto de Gaktak e de Lylith. Não sabia deles, mas o mais provável era terem encontrado a aldeia e parado por lá.
Já saído do templo, e fazia exactamente o mesmo caminho que tinha feito para lá chegar, o meu sentido de orientação nunca me deixou ficar mal. Cheguei ao ponto onde me tinha separado deles, no entanto, não havia pegadas no chão.
-Aquele elementarista podia ter-me facilitado a vida... - Pensei eu.
… … …
- Não sei... Espero que tenha encontrado alguma coisa de interesse... Assim o tempo extra que levará a chegar ao nosso destino não será desperdiçado...
Os turbilhões pararam, pairando um pouco antes da aldeia.
- Talvez… Logo se vê… Bem, entramos? – Perguntou Lylith, ansiosa por chegar ao chão.
- Certo, vamos descer. – Responde Gaktak, que fez com que os dois turbilhões por debaixo deles começassem a descer até ao chão. Alguém falou:
- Alto! Identifiquem-se!
- Gaktak Elentirr, natural do reino de Aranae.
- Eu sou Lylith, Elementarista, natural da floresta Etherna.
- Necromante! Preciso dos documentos! – Lylith sentiu-se ignorada, e nada contente com isso.
- Não os tenho comigo... Perdi-os aquando do naufrágio do navio. - Gaktak criou um Elemental do Vento - Mando isto para os cá trazer...
- Acho bem que se despache. - Respondeu o guarda, secamente.
- Ainda deve de demorar alguns dias... A distância não é pequena...Vai a Narak – referindo-se ao Elemental do Vento. - O mais rápido que puderes. Diz-lhes para fazerem uma cópia do meu documento de NNP, que a minha se perdeu durante o naufrágio do Rasga-Mares e trá-la o mais rápido possível! Memoriza a minha Assinatura de Maná para me encontrares quando voltares.
-Bem... Enquanto eles chegam ou não chegam, vai ficar no calabouço. Formalidades, sabe.- Disse o Guarda, agora a segurar em correntes.
- ENTAO E EU? FICO AQUI SOZINHA NUM SITIO QUE NAO CONHEÇO?! - Berra Lylith. De facto, Não estava nada contente.
- Tivesse vindo com mais alguém... – Respondeu o Guarda, friamente.
- Está a gozar comigo não está?! - Lylith indignou-se.
Depois de prender Gaktak, respondeu:
- Eu tenho cara de gozo, senhora? Vou informar os meus colegas que vou meter este traste no calabouço e daqui a bocado um deles virá. - O guarda vira-lhe as costas, e leva Gaktak para o interior da aldeia.
- Para que? Para me prender também? Veja lá, não fique sem o lugar de guarda por falta de prender gente!"- Gritou Lylith directamente para o guarda.
- Oh cabeça de vento, então não é preciso pelo menos um guarda de serviço à entrada? Caso não tenha reparado, isto é uma aldeia fortificada!
- Calma, calma... – Pediu Gaktak. Ignorado.
- Uhhh! Veja lá se a cabeça de vento não se vira a si!
- Também estava a falar contigo Lylith... - Tentou novamente Gaktak. -Não tem um calabouço onde me prender? Vamos lá despachar isto antes que alguém se magoe...
- É melhor é…- Respondeu Lylith, deixando transparecer todo o seu desprezo para com o Guarda.
… … …
Não interessa. Daqui dá para ver o caminho. Por isso mesmo, comecei a andar, não fosse escurecer, o que já estava a acontecer, e pelos vistos bastante depressa.
Cheguei a aldeia, e á entrada, estava Lylith. Que estranho... Porque raio Lylith ainda estava ali?
-Rohan! Finalmente! Já não era sem tempo! Onde é que andaste? E o que é isso que tens às costas?
Já previa isto... No entanto não lhe ia responder agora. Tinha mais que fazer, e Gaktak não estava ali com ela.
-Calma, uma pergunta de cada vez. Desviei-me um bocadinho, só isso. E onde está Gaktak? Porque não está aí contigo?
-Bem... Er...
-Siiiiiiiiiiiiim? - Algo me dizia que não vinha aí nada de bom...
-Foi preso.
-Foi o quê?! - Porquê eu...
-Preeeeeeeso! Um guarda estava aqui, e depois ele não tinha documentos que provavam que ele não era Necromante activo, porque se perderam no mar, e agora o guarda prendeu-o e, e, e...
-Calma! Já percebi! Então porque é que estás aqui? Porque não entraste também?
- Porque o guarda não me deixou. Armou-se em esperto e insultou-me. - Respondeu Lylith indignada.
-Oh bem... Vamos lá... Boa noite. - Disse eu ao guarda que estava no portão. Isto já não era novidade para mim.
-Boa noite senhor. O que deseja?
-Entrar, obviamente. Tenho um amigo na cadeia.
-Ahhhh... Então você é aquele tipo que o outro falou... Sim, ele disse que viria... E está com esta mulher é?
-Sim, estou. - Tirei a du’blade das costas e aponteia directamente ao pescoço do homem. - E da próxima vez que lhe faltar ao respeito vai aparecer a dormir com os peixes no mar, estamos entendidos? Agora deixe-me passar que tenho mais que fazer do que ouvir um homem que não tem onde cair morto.
O homem estava assustado, no entanto, foi capaz de responder:
-Sssim senhor, peço imensa desculpa senhora, e-entrem p-por favor.
E assim entramos. Tínhamos que encontrar Gaktak, mas também não era difícil. Era só procurar guardas que eles nos levariam ao seu encontro com toda a certeza.

25 de maio de 2011

"Também ela será Luz..."

Fecho os olhos...
Aquele doce rosto aparece...
Tão parecido contigo...


Olho então para o exterior,
E no meu cantinho estás tu...
Luz...

Tomo-te nos meus braços,
Sinto cada pedaço de ti,
E a minha mente viaja...

Para longe, ou talvez para tão perto...
Revejo aquele rosto,
No entanto, agora tudo ganha forma...

Longos cabelos negros descem
Pelo rosto, pelo peito, e ficam-se pela cintura.
No entanto, baixinha...

Sinto-te junto a mim,
Ouço o teu sussurro silêncioso...
"Amo-te..."

Ela acena-me,
Com aquela mão pequenina,
Revelando os seus dedos...

"Sais á tua mãe...", digo-lhe.
Ela sorri, e os seus olhos castanhos brilham.
"Tão bela que tu és..."

Não muito longe,
As minhas mãos percorrem-te,
O teu cabelo roça-me as faces...

A menina olha-me e chama-me...
Não falou, apenas me abraçou.
Também a ela nos meus braços tomei.

Daqueles negros caracóis, pendia uma franja,
Que lhe ocultava parte da face pálida.
Peguei-lhe ao colo...

Os meus dedos percorrem a tua face,
Procuram os teus lábios...
Quero-te simplesmente...

Caminho... A menina vai cantarolando,
Olhando em todas as direcções,
Enquanto o pai a observa, curioso.

"Luz", digo-lhe, "Onde está a mãe?"
A menina olha-me e sorri. Responde:
"Aqui", aponta para o peito...

Os meus lábios encontram os teus,
Perco-me em ti, mas a tempo de dizer:
"Também ela será Luz..."

Amo-te.

17 de maio de 2011

Némesis - Capitulo VI

Orion estava á superfície da Terra haviam quatro dias. Estava fraco, zangado, a fúria que há tantos anos tinha acumulado pela rapariga estava a querer saltar cá para fora... A matança efectuada na aldeia não lhe saciava o seu apetite por matar. Ele sabia que não podia voltar a casa, sem antes ter acabado a sua missão. Percorreu a floresta em redor da aldeia, com esperança de a encontrar. Nada lhe apareceu á vista, ele voltava sempre para a aldeia de mãos vazias. Ao fim do terceiro dia, resolveu tornar a entrar na casa onde a rapariga estaria antes de desaparecer. Procurar pistas sobre o seu aspecto, cor do cabelo, o que vestia, seria o mais acertado a fazer, visto que, se queria encontra-la, ao menos tinha de saber o seu aspecto... Afinal, ela não era uma rapariga normal... Ele sabia disso, ele sabia do perigo que ele e os da sua espécie corriam... Era grave, a situação...
Olhou em redor. Depois de toda aquela destruição ali presente, seria difícil de encontrar alguma coisa... Orion devia ter-se controlado melhor, não devia ter reagido daquela maneira... Olhou, por acaso, para a parede onde tinha gravado as suas palavras, onde tinha cravado a sua adaga... Mas espera, a adaga já lá não estava... Já lá não estava? Como é que... Não... Poderia? Poderia ter a rapariga voltado a casa?
Todas estas perguntas passavam pela cabeça de Orion no momento em que fixava os seus olhos na parede de madeira. Afinal, se tivesse ficado quieto no mesmo sitio, em vez de sair por aí á procura de um corpo sem rosto, provavelmente já tinha acabado o seu trabalho ali, e provavelmente já estaria em casa, a gozar os milénios que ainda tinha pela frente, sem se preocupar com a destruição do submundo... No entanto, Orion não se enfureceu. Antes pelo contrário, só lhe deu mais animo para procurar a mais pequena pista sobre a rapariga. Ao olhar para o chão, descobriu uma almofada encostada a um canto. Porque não? Foi até lá, e apanhou a almofada. Observou-a atentamente. Um cabelo.
-Hum... Castanho... Já é melhor que nada... - Disse este para si mesmo.
Já sabia que a rapariga tinha cabelo castanho. No entanto, não podia andar para aí a matar todas as raparigas de cabelo castanho que encontrasse. Quer dizer, poder podia, mas não era a mesma coisa. Dava trabalho e Orion não estava muito para aí virado. Saiu da casa, e assumiu a forma de uma ave. Rapidamente, elevou-se nos céus e começou a sua busca. Para começar, foi uma ideia idiota, tendo em conta que á sua volta só havia floresta, e ele não tinha visibilidade nenhuma para ver mais além que as copas das árvores. Mas não tinha alternativa. Estava fraco, não conseguia transformar-se em algo que se movesse por terra. Voou até à aldeia mais próxima. Decidiu descer até a floresta e retomar a sua forma, com uns pequenos ajustes, de modo a parecer mais... Humano. Entrou na floresta. Olhou em seu redor. Todos estavam ocupados com os seus afazeres. Tarefas domésticas, um ferreiro que reparava espadas, um velho que trabalhava um arco, as mulheres que conversavam umas com as outras. Dirigiu-se ao velho. Se ela tivesse passado por ali, decerto que já tinha saído. Decidiu agir como se estivesse apenas curioso na vida quotidiana.
-Boa tarde - Cumprimentou.
-Boa tarde. Deseja alguma coisa? - Perguntou o velho homem não desconfiando de nada.
-Estou só de visita, mas gostaria de aprender um pouco mais sobre a aldeia. Vive cá á muito tempo?
-Está bem, no que o poder ajudar, eu ajudo. Sim, vivo nesta aldeia desde os meus tempos de menino.
-Como é viver aqui?
-É bom, é calmo, agradável... Por vezes as crianças fazem as suas travessuras, mas não é nada que nós, habitantes, nos importemos. Tiram monotonia aqui ao sítio.
-Parece gostar de viver aqui...
-Sim, é de facto muito bom... Vou praticando o meu ofício, como pode ver, trabalhar a madeira.
-Sim, já reparei... Costumam ter gente nova? - Orion queria chegar ao fundo da questão, e depressa. Não tinha paciência para conversas amigáveis com humanos.
-Para dizer a verdade não... É raro aparecer alguém novo aqui... Normalmente, as pessoas que aparecem cá são de aldeias vizinhas.
-Estou a ver... - Orion preparava-se para se ir embora, o velho não tinha mais nada para lhe dizer.
-Por acaso, há uns dias chegou uma pessoa nova.
Orion estancou no lugar onde estava. Virou-se para o velho, o seu interesse estava a aumentar. Talvez aquela conversa não fosse uma total perta de tempo.
-Interessante... Um caçador perdido, não?
-Não, não, nada disso. Uma rapariga, mas jovem. Devia ter uns... Dezanove, vinte anos... Por aí.
-A sério? E ainda cá está?
-Já não... Já se foi embora...
-E como é que ela é? - Orion sabia que estava a demonstrar demasiado interesse pela rapariga, mas tinha de saber o máximo possível sobre ela.
-Bem... Há pouco para dizer... Era altinha, cabelo castanho, a sua face deixava transparecer medo... A pobre rapariga estava amedrontada...
-E para onde é que ela foi? - O velho homem apontou para a direcção da floresta, por onde Némesis tinha saído da aldeia.
Orion sorriu.
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"Viajar serve essencialmente para comparar. Descobrir o que nos separa e o que nos une como seres humanos" - Gonçalo Cadilhe

Viajar. Porquê viajar, sair do nosso conforto, por mais pequeno que seja? Eu não prefiro viajar fisicamente. Não apenas por causa do tão conforto que tenho, mas porque para mim, viajar mentalmente é muito mais lucrativo e enriquecedor. Talvez viajar sirva para comparar, não sei. Quando viajo para a mente de outras pessoas, não as comparo com nada ou ninguém. Não é isso que e importa, só me importa chegar ao fundo da questão, de modo a que seja possível resolver o problema. E porquê descobrir o que nos separa e une como humanos? Talvez a minha verdadeira necessidade não seja de facto descobrir estas diferenças que existem, mas sim descobrir o que nos une. Todos nós, apesar de diferentes situações, somos parecidos. Não, dizer que somos parecidos é errado. Todos nós já passámos semelhantes situações, mesmo que estas sejam diferentes. Contradição? Talvez... Mas não é graças às contradições que viajamos em busca da razão? Claro está que sim, ou pelo menos, no meu caso... Viajo em busca de novos problemas, de novas soluções. Afinal, viajar na mente de outras pessoas, escutando o mais pequeno pormenor, não é o que nos torna humanos? Mais uma contradição: nem todos temos esta capacidade de ouvir, de escutar, melhor dizendo, e de ajudar o mais possível. Quantas vezes não fiz isso, óh se fiz... Talvez seja por isso que me tornei uma pessoa melhor, não por mim mas pelos outros. Sim, foi isso. Acredito que toda esta viagem que diariamente faço ajuda-me a perceber melhor as reacções humanas, a forma de pensar humana. Afinal, é isso que nos distingue dos animais irracionais? No entanto, também nós somos irracionais por vezes, naqueles momentos chamados de "cabeça quente"... Não pensamos nas nossas acções, consequências e por vezes arrependemo-nos...
A mente humana é de facto um destino grandioso, onde nem todos conseguem chegar... Tempo, dedicação, só assim seremos capazes de conseguir os nossos objectivos. Afinal, como humanos, o que nos une não são os nossos objectivos? Por mais diferentes que sejam? Gosto de acreditar que sim.