6 de novembro de 2010

Barquinho de Papel II

Bem, da última vez que vi o barquinho, este encontrava-se sózinho, perdido naquele ramo do rio grande onde um dia estivera, naquele ramo onde reinava a poluição, as trevas, o desespero do próprio barquinho.
Ele só desejava sair dali, só desejava ganhar forças para sair dali. Bem, vendo bem as coisas, afinal este ainda não tinha ido ao fundo, sendo um barquinho de papel... Podia também ganhar umas rodas mágicas que o fizessem saltar daquelas águas negras e passar para o rio lindo e calmo que tanto queria encontrar, como foi sugerido. Bem, mas isso não acontece só porque sim... Assim que chegava a noite, o barquinho procurava um cantinho sossegado naquele rio para puder passar a noite, desde que ali entrara que nunca mais navegara de noite, pois tinha medo das trevas que se abatiam naquele lugar, já não era como dantes, em que tinha gosto de percorrer o rio e olhar o céu, ver as estrelas, tão lindas no céu... Mas ali não haviam estrelas, o céu estava sempre coberto...
Passou essa noite...
Acordou de manha. Curiosamente, o barquinho tinha sido arrastado pela corrente... Não, não podia ser corrente... Afinal, aquele ramo do rio não tinha uma saída, não desaguava em lugar algum. Vejamos... Afinal, não tinha sido levado pela corrente. Não, alguma coisa ou alguém o puxava para fora dali.
O barquinho derramou uma lágrima no rio que agora abandonava, sem saber como nem porquê. E, ao fazer isso, reparou num pequeno peixinho, provavelmente acabara de nascer, devido ao tamanho do mesmo. O barquinho, ficou tão surpreendido com o peixinho... Este conseguira nascer ali mesmo, no rio poluído. Afinal, ainda havia esperança suficiente para poder aparecer vida nova. O barquinho ficou muito feliz pelo pequeno ser que agora o seguia.
No entanto, o barquinho ainda não sabia porque estava a abandonar aquele local, não sabia o que o estava a fazer com que ele se movimentasse para fora dali. Este, no entanto, não se importava com isso. Porque sentia a felicidade a voltar-lhe de novo a si mesmo.
Chegou de novo a noite, mas desta vez, o barquinho não quis parar. No céu já se avistavam as primeiras estrelas. O céu ia ficando cada vez mais limpo. Mas, com o passar do tempo, acabou por adormecer.
Acordou na manha seguinte. O pequeno barquinho não acreditava no que via. Olhou em volta, ainda espantado com tudo aquilo. Via vida por todo o lado. O rio, parecia que tinha renascido. Não, espera, o barquinho reparou em si mesmo. Este estava... novo? Como que acabado de ser feito? Mas... como?
Mas isso agora não importava. O que importava era que tinha saído daquelas águas. No entanto, continuava sem saber quem o tinha levado até ali. Percorreu, feliz, aquele rio de águas límpidas, cheias de vida, quando viu algo que nunca tinha visto. Estava lá, no rio, rodeado por peixes, aves, borboletas, outro barco de papel.
No entanto, este não era um barco de papel. O nosso barquinho, ao observar mais atentamente, percebeu que se tratava de uma barquinha de papel.
Ao aproximar-se, ouviu algumas das palavras desta barquinha.
"- E assim puxei o barquinho de papel, e fi-lo chegar a este rio, cheio de peixinhos, esperança e alegria, tal como ele tinha sonhado desde que iniciou a sua aventura."
O barquinho de papel estava feliz. Tinha chegado ao local que iria iniciar a sua verdadeira viagem até ao grande Oceâno.

Fim.

1 comentários:

Inês disse...

lindo rio, sim senhor. ainda bem que estas feliz!

adoro-te, meu barquinho!